A IMPORTÂNCIA DA ÁGUA
A água é um recurso natural de valor inestimável. Mais que um insumo
indispensável à produção e um recurso estratégico para o desenvolvimento
econômico, ela é vital para a manutenção dos ciclos biológicos,
geológicos e químicos que mantêm em equilíbrio os ecossistemas.
É, ainda, uma referência cultural e um bem social indispensável à adequada
qualidade de vida da população.
A conservação da quantidade e da qualidade da água depende das condições naturais e antrópicas das bacias hidrográficas, onde ela se origina, circula, percola ou fica estocada, fora de lagos naturais ou reservatórios artificiais.
Isso porque, ao mesmo tempo em que os rios, riachos e córregos alimentam uma determinada represa, por exemplo, eles também podem trazer toda a sorte de detritos e materiais poluentes que tenham sido despejados diretamente neles ou no solo por onde passaram.
Recentemente muito se tem falado a respeito da "crise da água", e especula-se
sobre a possibilidade da escassez deste recurso vital se tornar motivo de
guerras entre países. É preciso haver consciência de que, exceto no caso de
regiões do planeta emque há uma limitação natural da quantidade de
água doce disponível, na maioria dos países o problema não é a quantidade,
mas sim a qualidade desse recurso, cada vez pior devido ao mau uso e à
sua gestão inadequada.
Segundo o pesquisador Aldo Rebouças, professor titular do Instituto de
Geociências da Universidade de São Paulo, USP, uma análise
comparativa entre a disponibilidade hídrica e a demanda da população
no Brasil mostra que o nível de utilização da água disponível em 1991
era de apenas 0,71%.
Mesmo para os estados mais populosos e desenvolvidos, como
São Paulo e Rio de Janeiro, este índice também era muito confortável,
estando por volta de 10%.Ouseja, a questão que se coloca diante
de nós não é a disponibilidade ou falta de água, mas sim as formas
de sua utilização que estão levando a uma acelerada perda de qualidade,
em especial nas regiões intensamente urbanizadas ou industrializadas.
A IMPORTÂNCIA DA ÁGUA NOS PAÍSES
Estados Unidos
95% da água potável dos Estados Unidos é subterrânea. As fontes de água estão secando devido a seu bombeamento, nas altas pradarias texanas, mais rápido do que a chuva consegue recarregar os aqüíferos. O maior aqüífero dos Estados Unidos, o Ogallala, está se empobrecendo a uma taxa de 12.000 milhões de metros cúbicos (m3) ao ano. A redução total nesta época chega a uns 325.000 milhões de m3, um volume que iguala o fluxo anual do 18 rios do estado do Colorado. O Ogallala se estende de Texas a Dakota do Sul e suas águas alimentam a um quinto das terras irrigadas dos Estados Unidos. Muitos fazendeiros nas pradarias altas estão abandonando a agricultura irrigada ao se conscientizarem das conseqüências de um bombeamento excessivo e de que a água não é um recurso inesgotável.
México
A Cidade de México está se afundando devido à quantidade de água extraída debaixo de seus pavimentos. Uma das maiores e mais povoadas cidades do mundo, México, D.C,. foi uma terra fértil de lagos. Nos últimos 500 anos, os lagos foram drenados e os bosques dos arredores foram cortados. Enquanto a cidade crescia, o problema de água se agravava. Devido à falta de um sistema de drenagem adequado, hoje a água de chuva se mescla com resíduos e é utilizada para a irrigação. A cidade enfrenta agora um sério risco de ficar sem água potável. Estima-se que cerca de 40% da água da cidade se perderá devido a perdas no sistema de distribuição, construído no princípio do século.
Puna
A zona do Altiplano, ou Puna, é uma vasta região que engloba Equador, Peru, Bolívia, Chile e Argentina, caracterizada por ser uma zona árida. A escassez de água tem gerado tensões, como os recentes atritos entre Bolívia e Chile por um pequeno curso d’água conhecido como o Silala. A região também é muito frágil e enfrenta sérios problemas causados pela desertificação, causada por vários fatores, entre os quais o excesso de gado e a agricultura intensiva. Esta situação tem aumentado a pobreza na região, que é foco de constantes problemas sociais. Alguns países, como Bolívia, têm tentado estabelecer uma lei de água para o uso adequado deste recurso, mas isso também tem gerado tensões na região.
El Chaco
O Chaco é uma vasta região compartilhada por Argentina, Bolívia e Paraguai, com recursos naturais caracterizados por sua fragilidade e relativa escassez, além de contar com uma população reduzida e marginalizada. Esta região sofre sérios problemas de desertificação, que incidem sobre a pobreza de seus habitantes. A água, justamente, é um dos recursos escassos, apesar de contar com dois grandes rios que desenham a região: o Pilcomayo e o Paraguai. Quando chove, a água corre pelas quebradas, com tanta força, que destrói tudo o que encontra em seu caminho. Os aqüíferos do Chaco enfrentam também problemas de contaminação, o que, no passado, gerou tensões e a necessidade de uma atuação coordenada dos países da região.
África Ocidental
Quando o nível dos enormes rios da África ocidental começaram a diminuir, as economias da área, em geral, começaram a sofrer. Gana, por exemplo, tornou-se totalmente dependente do abastecimento hidrelétrico da represa de Akosombo, sobre o rio Volta. Mali, um dos países mais pobres do planeta, depende do rio Níger, que corre da Guiné à Nigéria. Mali depende deste rio para alimentos, água e transporte, mas grandes porções dele enfrentam agora o risco de catástrofes ambientais, em razão da contaminação. Na Nigéria, a metade da população não tem acesso a água potável e, como em muitas partes do continente, muitas mulheres têm de caminhar várias horas diariamente para poder consegui-la.
Sul da África
A bacia hidrográfica do rio Zambeze, no sul da África, é um dos sistemas fluviais mais sobreutilizados do mundo. Os países que compõem a bacia normalmente competem pelas águas do Zambeze, ainda que muitas vezes têm também sofrido inundações e chuvas torrenciais. A região experimentou, em março de 2000, as piores inundações dos últimos tempos, quando as águas ultrapassaram a represa de Kariba em Zimbabwe.
Nilo
Um noticiário das Nações Unidas prevê que o acesso de água talvez seja uma das principais causas de conflito e guerra na África, nos próximos 25 anos. Tais guerras, provavelmente, aconteçam mais em zonas onde os rios e lagos são compartilhados por mais de um país. Atualmente, já existe uma forte competição pela água para irrigação e geração de energia, especialmente na bacia do rio Nilo. Egito advertiu, em 1991, que está pronto a utilizar a força para proteger seu acesso às águas do Nilo, que também é compartilhado por Etiópia e Sudão. Se a população destes países continua crescendo, a competição pela água poderá tornar-se ferrenha.
Oriente Médio
A água é o recurso mais precioso no Oriente Médio, mais importante, inclusive, do que o petróleo. As águas do rio Jordão foram uma das principais causas da guerra de 1967. Enquanto a população da região aumenta, a água se torna mais escassa, agravando as tensões. Os libaneses têm acusado Israel, há tempos, de ter plantações sobre o rio Litani e Síria acusa aos israelenses de resistirem a retirar das costas do mar de Galiléia a fonte de cerca de 30% da água israelense. Os israelenses na Cisjordânia, utilizam quatro vezes mais água do que seus vizinhos palestinos, que têm acesso mais restrito a esse líquido vital.
Turquia
Turquia tem sido acusada por Síria e Iraque de arrebatar-lhes o líquido vital, a água, ao continuar construindo uma série de represas ao longo do Tigres e Eufrates. O país também está embarcando em um ambicioso projeto de venda das águas de seu rio Manavgat ao Oriente Médio.
Europa
Mais da metade das cidades européias exploram a água subterrânea de forma insustentável. A escassez crônica de água já está afetando a 4,5 milhões de pessoas na Catalunha, onde as autoridades pressionam para que se construa um aqueduto para desviar as águas de Ródano, na França, para Barcelona.
Mar de Aral
O mar de Aral, na Ásia Central um dia foi o quarto lago interior maior do mundo e uma das regiões mais férteis do planeta. Na verdade, o mau manejo econômico tem convertido a área em um deserto tóxico. Os dois rios que o alimentam, o Amu Daria e o Sir Daria, foram desviados de acordo com um plano soviético para cultivar algodão no deserto. Entre 1962 e 1994, o nível do Mar de Aral caiu 16 metros. A região circundante agora tem uma das taxas de mortalidade infantil mais alta do mundo. Além disso, a anemia e os cânceres, causados pelos despejos químicos sobre o leito seco do mar, são agora comuns.
Rio Ganges
O volume do rio sagrado dos hindus, o Ganges, tem baixado de tal forma que os pântanos e manguezais de Bangladesh estão correndo perigo de secar. Também foram registrados altos níveis de arsênico em suas águas. Ao mesmo tempo em que prossegue o desmatamento e aumentam as construções ao longo das margens do Ganges, os glaciais de onde nasce estão se derretendo. Isto pode provocar mais baixas de água e seca, rio abaixo. Como se não bastasse, o Ganges tem sido objeto de um longo litígio entre Índia e Bangladesh ainda que recentemente tenha havido avanços sobre a compartimentação da via fluvial vital.
China
Os três rios que alimentam as planícies do norte da China estão altamente contaminados, causando prejuízos à saúde e limitando a irrigação das lavouras. Nas áreas baixas do rio Amarelo, não correu um só gota durante 226 dias em 1997. O norte da China abriga a dois terços dos campos de lavoura do país, mas somente a quinta parte de seus recursos hídricos. À medida que aumenta de forma desmedida a demanda por água, por parte das cidades, indústria e agricultura, a terra está secando. Somente entre 1991 e 1996, as reservas de água subterrânea, no norte da China, diminuíram numa média de 1,5 metros por ano.
Austrália
A Austrália é o continente mais seco do mundo. Seus colonos buscaram, durante anos, a possibilidade de reverter o fluxo dos rios costeiros para o interior do território. Um plano ambicioso para redirigir o volume do rio Snowy terminou em um fracasso, ameaçando a cidade de Adelaide com a privação de água potável. A região que agora abastece esta via fluvial também é abastecida pelos rios Murray e Darling. Como resultado, as reservas de água subterrânea estão aumentando de forma desproporcional, levando a concentrações de altas quantidades de sal na superfície, o que já destruiu parte dos terrenos mais férteis do país. A bacia de Murray e Darling abastece a três quartos da água utilizada para irrigação na Austrália. Os ecossistemas aquáticos tornam-se cada vez mais indispensáveis à vida pois estão relacionados às mais variadas atividades humanas como a obtenção de alimento, de energia elétrica, o abastecimento doméstico e industrial, o lazer e a irrigação entre outras.
Cerca de 70% da água consumida mundialmente, incluindo a desviada dos rios e a bombeada do subsolo, são utilizados para irrigação. Aproximadamente 20% vão para a indústria e 10%, para as residências.
Conforme a população rural, tradicionalmente dependente do poço da aldeia, muda-se para prédios residenciais urbanos com água encanada, o consumo de água residencial pode facilmente triplicar. A industrialização consome ainda mais água que a urbanização.
Problemas de água no Oriente Médio, norte da África, Ásia Central, no Saara africano e, porque não dizer, em algumas regiões brasileiras para a instalação de indústrias e até mesmo de novos municípios. Assim, a possibilidade de guerras localizadas, pelo controle dos recursos hídricos, não está se tornando uma ficção, mas, sim, possível de acontecer, até com razão, pois grandes reservas de água estão em regiões fronteiras. Mais de 1,2 bilhão de pessoas não dispõem de água potável para uso doméstico; 15 milhões de crianças morrem por ano por falta de água tratada; e 80% das doenças e 30% das mortes são causadas por água contaminada.
Para comparar, basta dizer que o consumo brasileiro per capita diário está estimado em 200 litros; o país possui 14% das reservas mundiais, porém 80% dos mananciais se concentram na Amazônia, com 5% da população. Sobram 20% para 95% dos brasileiros. A perda com água tratada chega a 30% no país, 1/3 da população não tem rede de água e 60% não possuem esgoto.
75% são usados em irrigação, 15% pelas indústrias e 5% consumidos pelos seres vivos terrestres.
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DA ÁGUA
1 - A água faz parte do patrimônio do planeta. Cada continente, cada povo, cada nação, cada região, cada cidade, cada cidadão, é plenamente responsável aos olhos de todos.
2 - A água é a seiva de nosso planeta. Ela é condição essencial de vida de todo vegetal, animal ou ser humano. Sem ela não poderíamos conceber como são a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura.
3 - Os recursos naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo, a água deve ser manipulada com racionalidade, precaução e parcimônia.
4 - O equilíbrio e o futuro de nosso planeta dependem da preservação da água e de seus ciclos. Estes devem permanecer intactos e funcionando normalmente para garantir a continuidade da vida sobre a Terra. Este equilíbrio depende em particular, da preservação dos mares e oceanos, por onde os ciclos começam.
5 - A água não é somente herança de nossos predecessores; ela é, sobretudo, um empréstimo aos nossos sucessores. Sua proteção constitui uma necessidade vital, assim como a obrigação moral do homem para com as gerações presentes e futuras.
6 - A água não é uma doação gratuita da natureza; ela tem um valor econômico: precisa-se saber que ela é, algumas vezes, rara e dispendiosa e que pode muito bem escassear em qualquer região do mundo.
7 - A água não deve ser desperdiçada, nem poluída, nem envenenada. De maneira geral, sua utilização deve ser feita com consciência e discernimento para que não se chegue a uma situação de esgotamento ou de deterioração da qualidade das reservas atualmente disponíveis.
8 - A utilização da água implica em respeito à lei. Sua proteção constitui uma obrigação jurídica para todo homem ou grupo social que a utiliza. Esta questão não deve ser ignorada nem pelo homem nem pelo Estado.
9 - A gestão da água impõe um equilíbrio entre os imperativos de sua proteção e as necessidades de ordem econômica, sanitária e social.
10 - O planejamento da gestão da água deve levar em conta a solidariedade e o consenso em razão de sua distribuição desigual sobre a Terra.
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